Religiosos e até outros socialistas revolucionários que discordassem do Partido Comunista estavam entre os prisioneiros
Inédito no Brasil, o documentário francês Gulag – A História dos Campos de Concentração Soviéticos conta a história de horror por trás dos campos de concentração dentro da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
O filme, dividido em dois episódios, conta a história dos campos que aprisionavam e puniam quem fosse considerado ameaça à ditadura vigente, sobretudo após a ascensão de Josef Stalin ao comando do Partido Comunista. O filme se baseia em imagens históricas e em depoimentos de ex-prisioneiros, recolhidos entre 1988 e 2014.
Segundo o documentário, criado em 2019 e que estreou recentemente no Curta!On (serviço de streaming do canal Curta!, disponível no Now), um em cada seis adultos soviéticos foi levado a um gulag, como eram chamados os campos de concentração na URSS.
Dentre os prisioneiros, estavam incluídos os membros de uma facção revolucionária rival ao grupo que assumiu o poder do país, religiosos e até outros socialistas revolucionários que, por algum motivo, discordassem da liderança do Partido Comunista.
Nikita Khrouchtchev, sucessor de Stalin no comando do Partido Comunista, revelou parte dos crimes contra a humanidade cometidos pela ditadura soviética
Logo após a Revolução de 1917, o novo regime soviético, ainda sob comando de Lênin, criou sua polícia política e complexos prisionais destinados a opositores que serviriam de base para o projeto dos campos de concentração soviéticos.
Nos anos seguintes, já no período stalinista, houve uma reforma penal que implementou definitivamente o modelo do gulag, um sistema robusto e integrado que submetia os presidiários (em cada vez maior número) a trabalhos forçados e às mais terríveis violações de direitos humanos.
Logo, o gulag se tornou uma verdadeira “indústria penitenciária”, e a mão de obra proveniente desses campos de concentração tornou-se elemento fundamental da economia soviética. Durante a Segunda Guerra Mundial, conforme a União Soviética avançava com a chamada Cortina de Ferro, após a conquista de territórios antes dominados pelos nazistas, os gulags e as cidades que circundavam os campos — muitos deles na Sibéria — também ampliavam sua capacidade, recebendo cada vez mais pessoas de nacionalidades diversas, além de prisioneiros de guerra, tratados com ainda mais violência. Ao mesmo tempo, muitos eram liberados dos gulags para integrar o Exército Vermelho, lutando contra os países do Eixo e pela expansão da União Soviética.
Mesmo após o fim da guerra, o gulag foi mantido, recebendo outras centenas de milhares de soviéticos repatriados. Apenas com a morte de Stalin, em 1953, foi concedida uma ampla anistia, e o gulag perdeu uma parte considerável de seus prisioneiros. Os presos políticos que ainda restaram, começaram a organizar-se em revoltas que, aos poucos, foram minando o sistema.
Em 1956, Nikita Khrouchtchev, sucessor de Stalin no comando do Partido Comunista, revelou parte dos crimes contra a humanidade cometidos pela ditadura soviética até então, causando um grande abalo no bloco comunista e acelerando o fim do gulag, que aconteceria, na prática, dois anos depois, com a revogação do artigo do código penal soviético que legitimava prisões políticas em massa.
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