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sábado, novembro 23, 2024

Pacientes e parentes relatam momentos de sofrimento com covid-19

Covid-19 em alerta máximo no país. Pacientes e parentes relatam momentos de sofrimento diante da gravidade da doença

  “Para as pessoas que não acreditam, que acham que não vai acontecer com elas e com alguém que elas amam, tomem muito cuidado. A Covid-19 é muito séria, só quem já passou por uma situação extrema no hospital com um ente querido ou, está passando por isso, consegue entender o real perigo da doença. O vírus está aí e a gente sabe que não são todas as pessoas que têm cuidado e que adotam as medidas restritivas.”

Esse é o alerta do servidor público, Bruno Henrique Rampinelli, que recentemente passou por momentos de aflição com a esposa grávida com Covid-19 e seu bebê. Ludmila Rampinelli, de 40 anos, precisou ser internada com 33 semanas de gestação após testar positivo para Covid-19 e sentir fortes dores na perna. Com o receio de ser uma trombose, a grávida passou por uma série de exames no Hospital Márcio Cunha, administrado pela Fundação São Francisco Xavier, e foi detectado que ela estava com os níveis de coágulo no sangue dez vez maiores do que o normal.

Ludmila foi internada e depois precisou ser intubada para realizar a cesárea. A bebê Ísis foi intubada logo ao nascer. “Foram momentos de muita angústia. Nossa criança nasceu desacordada, ficou um dia intubada e graças a Deus melhorou em seguida. Minha mulher ainda lutou pela vida durante 12 dias na UTI. É um sentimento de aflição inexplicável.  O processo de recuperação pulmonar é lento. Ela chegou a ter 75% do pulmão comprometido. Foi Deus, as orações e a equipe médica que trouxeram minha esposa e minha filha de volta”, agradece Bruno. Ludmila teve alta do hospital no último dia 21 e está se recuperando bem em casa.

Outra família que passou por momentos de dor e angústia devido à covid-19 é a da senhora Nilza da Silva Santos, de 79 anos, moradora de Barão de Cocais. A filha Fátima, conta que o pai Daniro Ricardo dos Santos, de 86 anos, que já sofria com Alzheimer pegou Covid. “Ele foi o primeiro a ter os sintomas e logo depois 11 pessoas da nossa família também tiveram a doença, entre elas filhos, netos, genro, nora e a nossa mãe Nilza. A Covid-19 aumentou ainda mais a fragilidade do meu pai. Ele faleceu em um dia e no outro minha mãe foi internada”.

Nilza da Silva Santos, de 79 anos

Dona Nilza passou 40 dias internada no Hospital Municipal Carlos Chagas, em Itabira, administrado pela Fundação São Francisco Xavier, sendo 15 dias intubada. “Toda a nossa família sofria. A doença é muito mais agressiva do que a gente imagina. Uma coisa é você ver na TV, a outra é ver um familiar passando mal no hospital, acompanhar a rotina frenética de pacientes com Covid. É um processo muito dolorido e para nós, que tínhamos acabado de perder o nosso pai e ainda ter que buscar forças para acompanhar a nossa mãe, foi muito difícil”, lembra Fátima.

A filha da Dona Nilza conta que sempre foram cuidadosos com as medidas preventivas à Covid-19. “Na entrada da casa da nossa mãe, minha irmã já tinha colocado um cartaz proibindo a entrada de pessoas sem máscara. Mas acredito que podíamos ter sido ainda mais cautelosos”, ressalta. Atualmente dona Nilza se recupera em casa. “Foi um milagre ver a minha mãe bem depois de tudo que ela passou. Fomos muito bem atendidos por toda a equipe médica do hospital, médicos, enfermeiras e assistentes sociais”, conta.

Para Fátima o sentimento ao ver uma pessoa na rua sem máscara atualmente é de frustração. “Quem não passou por isso não tem a menor ideia do que seja a doença. Fico desolada quando vejo o desrespeito das pessoas com as outras”. O sentimento é compartilhado por Dona Nilza. “Eu peço a vocês, tenham respeito um com o outro, tenham cuidado porque a doença é muito perigosa. A Covid levou o meu marido e eu também fui vítima dela”, desabafa.

“Eu pensei que  fosse  morrer. Eu não desejo o que passei para o meu pior inimigo”. O relato é do vigilante Edio Andrade Miranda, de 59 anos. Casado há 36 anos e pai de três filhos, ele ficou 26 dias internado com Covid-19 no Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga.

Edio Andrade Miranda, de 59 anos

A doença no senhor Edio progrediu rapidamente. Em um dia ele começou a sentir dores no peito e pensou que fosse um infarto e no outro ele precisou ser internado às pressas em uma Unidade de Tratamento Intensiva. “No começo eu estava lúcido, tomando antibiótico e ligado ao oxigênio. Cheguei a ir para a enfermaria e depois de um tempo passei a sentir muita falta de ar e aí fui intubado.  É muito triste ficar no hospital com essa doença. Quando eu podia conversar com minha família por chamada de vídeo, era o melhor momento do dia”, lembra.

Para Edio, a lição que fica é de cuidar do outro e alertar as pessoas. “A doença é perigosa demais. Tenho colegas que andam sem máscara por aí. Daí eu vou e falo tudo que passei. Não deixo de contar e pedir para todos usarem máscara, usarem álcool em gel e manterem o distanciamento social”, comenta.

Alerta máximo

 Para o coordenador de ensino e pesquisa da Fundação São Francisco Xavier, dr. Milton Henriques Guimarães Junior, o momento é de alerta máximo. “O problema é muito sério, muito real. Infelizmente estamos enfrentando um novo pico da doença, antes de chegar a vacina para todo mundo. Nestas horas, o que vai ajudar é o uso correto da máscara, o uso do álcool em gel e, aqueles que conseguem ficar em casa e evitar a exposição, devem ficar”, aponta.

O médico explica que a gravidade da doença nesta segunda onda pode ser notada no aumento do tempo de permanência nas UTIs e no número de óbitos. “Para fazermos um paralelo da gravidade da doença, em um CTI geral temos uma média de permanência do paciente de 4 a 6 dias e um índice de mortalidade de 7 a 9%. Na pandemia da Covid-19 estamos falando em uma taxa de permanência de 14 dias e um óbito de 50%”, aleta.

Dr. Milton ressalta que é preciso a cooperação de todos na luta contra a covid-19. “Basta uma ocasião, um jantar com amigos, um churrasco com a família para alguém se infectar com o novo coronavírus. Vamos evitar esses momentos. Se protejam, usem EPIs, evitem aglomeração. A saúde é o nosso bem maior”, destaca.

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