O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira (8) que governadores e prefeitos podem emitir decretos para fechar igrejas e templos religiosos. A decisão gerou muitas críticas contra os integrantes da Corte e a reação de lideranças evangélicas
Para entender o posicionamento dos líderes evangélicos, o Gospel Prime procurou alguns dos principais nomes do país para avaliarem a decisão do Supremo, que acontece visando, supostamente, o combate ao avanço da covid-19 no país.
Um dos nomes procurados pela reportagem foi o bispo Robson Rodovalho, da Sara a Nossa Terra. Ex-deputado federal, Rodovalho acredita que apesar da intenção de proteger a sociedade e cooperar para diminuir a contaminação pela covid-19, a decisão do STF foi equivocada.
“Como foi muito bem defendido pelos “amicus curis” [amigos da corte] diversos, a Constituição Federal da a igreja um direito de permanecer aberta em todas circunstâncias. Embora seja evidente que ela deve sempre cooperar com o Estado para a projeção, segurança e bem estar do cidadão”, disse.
O bispo lembrou ainda que “as igrejas são também uma grande ajuda social, com programas de distribuição de alimentos, por exemplo, além do apoio emocional e espiritual”.
Já o pastor Carlito Paes, líder da Igreja da Cidade, disse que apesar de não ser advogado ou da área jurídica acredita que a decisão anterior do STF, de deixar que cada cidade e cada estado decidisse sobre o isolamento social, foi acertada, mas prefere falar da sua realidade local.
“Quando veio o decreto de fechamento, em março do ano passado, na minha cidade, nós já estávamos com a igreja suspensa dos cultos presenciais. E quando veio o decreto municipal agente já tinha suspenso, por olhar a situação que não tinha ambiente, clima para reuniões públicas, visto que ninguém tinha reuniões públicas e a igreja não é uma bolha, é um reflexo da sociedade”, disse.
O pastor explicou ainda que depois que as atividades foram liberadas, sua igreja inda levou dois domingos para voltar e acompanharam as determinações da prefeitura da cidade, seguindo com limitações de público e orientações sanitárias. Ele disse que apesar dos decretos, a Igreja da Cidade não parou, porque atuou de forma digital.
“Eu entendo que a Igreja é essencial sim, a Igreja é essencial. Mas ela é essencial na sua mensagem de fé, esperança e amor, sua mensagem apostólica de boas notícias ao mundo, de conforto, consolo e também ela é essencial no seu serviço ministerial”, continuou.
Carlito Paes afirma que a decisão, devido ao contexto de pandemia, não deveria ir para esse enfrentamento e pensa que isso não deveria ser defendido com base na Bíblia, porque a Bíblia é a Carta Magna de Deus para nós, cristãos, evangélicos, e não para o mundo e a sociedade secular.
“Tem a questão do direito de ir e vir, do direito constitucional, isso deveria sim estar sendo julgado. Então, do meu entendimento, não precisaria este assunto ter ido para o plenário, e pareceu uma derrota da Igreja, mas nem todas as igrejas entraram com essa ação”, avaliou.
O arcebispo de Miguel Uchoa, primaz da Igreja Anglicana no Brasil e bispo da Diocese de Recife e reitor da Paróquia Anglicana Espírito Santo (PAES), segue a mesma linha de pensamento de Carlito Paes, afirmando que a Igreja “é essencial à população, sim é, mas também não é nenhuma novidade que a sua essencialidade não está, apenas, nas celebrações presenciais”.
“Esse momento é sagrado e vital para a manutenção da comunidade da fé. No entanto, a igreja e nós cristãos precisamos pensar estrategicamente e nos associarmos a todos que, de boa fé, estão dentro dessa batalha contra essa enfermidade”, salientou.
Uchoa avalia que “a Igreja, de maneira geral, perdeu quando levou um apelo ao STF para a liberação das celebrações presenciais. Perdeu porque deu voz a um tribunal laico, desvinculado da vida eclesial, com suas próprias prioridades e interesses”.
Para o bispo Abner Ferreira, da Assembleia de Deus Madureira, a Igreja não recuará e a “Suprema Corte Celestial já deu a ordem de avançar”. Ele avalia que “a decisão será respeitada, mas o Evangelho continuará a ser pregado, independente se os templos estiverem fechados”.
Sobre a possibilidade de uma eventual perseguição contra a Igreja, o bispo Robson Rodovalho não acredita que isso poderá acontecer, mas que “apenas voltamos a posição atual em que estamos sendo regidos pelos decretos dos prefeitos e governadores”.
Carlito Paes também avalia que a decisão não vai fomentar perseguição à Igreja, mas que isso pode gerar mais rejeição à igreja da sociedade secular, por conta da polêmica. “Temos uma nação livre, um país democrático, Estado de direito, uma Constituição, liberdade religiosa garantida, mas eu penso que isso pode gerar ainda mais rejeição à igreja institucional”, disse.
Em relação aos próximos passos que a liderança da Igreja deve dar, o bispo Robson Rodovalho avalia que a melhor estratégia é que os conselhos de pastores e os vereadores evangélicos abram diálogo com os prefeitos e governadores, somando esforços para combater a pandemia.
“Somos uma atividade de baixíssimo impacto, se funcionar dentro das normas sanitárias estabelecidas e podemos contribuir muito para ajudar a resolver essa crise, tanto sanitária, quanto financeira que estamos vivendo”, disse.
O pastor Carlito Paes afirma que a Igreja deve acatar a decisão e ficar em paz, servindo no ministério, sem se rebelar contra as instituições para não se contradizer, mas entende que os ministros do Supremo não são isentos, são tendenciosos, criticando os votos dos ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes.
“O voto do ministro Gilmar Mendes e do ministro Alexandre de Moraes revelam orgulho, vaidade, soberba e até preconceito para com os evangélicos, isso é lamentável. Mas, a igreja ela prevalece, 21 séculos e ela prevalece e eu creio que essa tempestade vai passar e dias melhores, pela fé, virão”, enfatizou.
“Nas nossas igrejas, temos seguido os protocolos e realizado celebrações presenciais dentro de todas as normas sanitárias, o número de fiéis presentes foi drasticamente reduzido, investimos em transmissões on line e estamos seguindo na missão”, disse.
Abner Ferreira diz que a Igreja deve continuar cumprindo sua missão de pregar a Palavra de Deus e que deve buscar meios para respeitar os decretos. “Devemos continuar com a nossa missão de pregar a Palavra de Deus, buscando meios para respeitar os decretos, mas sem recuar”, disse.
Ele também citou a passagem bíblica onde Jesus disse: “Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece” (João 15.19).