Jornada de Aprendizagem da Heroína tem plataforma para cursos online
Para buscar a igualdade de gênero nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, chamadas pelo acrônimo em inglês Stem, pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) e do Instituto Superior Técnico (IST) de Lisboa desenvolveram o projeto Jornada de Aprendizagem da Heroína (Heroine’s Learning Journey).
A iniciativa visa capacitar alunas com idade entre 15 e 21 anos, para melhorar as habilidades e motivá-las a atuar nessas áreas. Sexta-feira (11) foi comemorado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Segundo a Coppe, atualmente as mulheres respondem por apenas 31% do mercado de trabalho e 33% das matrículas no ensino superior em Stem no Brasil.
O projeto envolve o Laboratório do Futuro e o Laboratório de Ludologia, Engenharia e Simulação (Ludes), ambos ligados ao Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da Coppe, em parceria com o Departamento de Matemática do IST de Lisboa.
A plataforma já está no ar e aberta a adesões de quem queira oferecer um curso na área. A primeira atividade será um curso gratuito de aprendizado de máquinas, ou machine learning, com matemática e ética, na plataforma de ensino aberto online do IST, que será oferecido em março. As inscrições ainda não foram abertas.
A iniciativa se baseou no estudo no Ludes do aluno de doutorado da Coppe Luis Felipe Coimbra Costa. Segundo ele, o principal objetivo do projeto é ser um “quadro de motivação” que ajude as estudantes a superar os desafios de um curso Stem.
“Isso é feito orientando a aquisição de novas habilidades e conhecimentos, apresentando modelos inspiradores, apoiando a confiança e a autorregulação da aprendizagem. O nosso modelo de jornada é projetado para ser flexível, levando em consideração os recursos tecnológicos e/ou humanos disponíveis para a implementação do curso, de forma a se propiciar diferentes escolhas possíveis para as funções a serem desempenhadas”, disse.
Mulheres nas ciências
A cientista da computação Luciana Nascimento, pós-doutoranda na Coppe na área de engenharia de software em contexto de inovação e startups, colaboradora do projeto Jornada de Aprendizagem da Heroína, lembra que, na época em que escolheu a carreira a ser ser seguida, era vista “como um ET” pelos colegas e professores do ensino médio por escolher a área de exatas.
“Eu sempre gostei de matemática, gostava de resolver problemas matemáticos e, por isso, escolhi computação. Mas eu não tinha referências femininas, nenhuma das minhas amigas de escola escolheu carreira na área de exatas e meu professor de matemática não me apoiou na escolha de carreira. Quem me apoiou foi uma mulher, professora de História”, explicou.
Para Luciana, uma iniciativa como a jornada teria contribuído em seu processo de vestibular para encarar o curso com menos pressão e mais naturalidade. Ela afirmou que o projeto oferece referências femininas desde a linguagem utilizada nos exemplos e exercícios, ampliando a percepção das meninas sobre que carreiras elas podem seguir, tornando as exatas uma questão mais natural para as mulheres.
“Ele apoia o empoderamento das meninas quanto à área de Stem ao permiti-las ampliar suas percepções e quebrar estereótipos que nos são ensinados desde a infância, sobre nossas habilidades em relação à tecnologia, física, matemática, ciências. O projeto apresenta a elas referências de mulheres em Stem, usa uma linguagem que inclui o gênero feminino enquanto ensina tópicos como aprendizado de máquina e lógica”, acrescentou.
Depois de enfrentar machismo, preconceito e estereótipos de gênero desde o início da vida acadêmica, Luciana diz que pouca coisa melhorou nos últimos 20 anos.
“Tentam colocar as meninas na área de gestão, de desenho, não valorizam a gente para a parte de programação, de lógica. A gente deveria já entrar sendo respeitada por estar ali. Tem aquela sensação de que as meninas precisam mostrar muito mais as suas habilidades para estar naquele curso. Enquanto a maioria pode ficar no nível regular, as meninas precisam tirar notas mais altas para mostrar que têm capacidade”, argumentou.
Dados do projeto Igualdade Stem, do Laboratório do Futuro, mostram que, em 2010, a participação feminina no total de alunos formados nessas áreas no Brasil era 29,5%, subindo para 33,7% em 2019, aumento de 4,2 pontos percentuais em dez anos.
Nos cursos ligados à área da Tecnologia, como Ciência da Computação, a participação feminina é em torno de 11%, enquanto as mulheres representam 60% dos alunos de todos os cursos de ensino superior e chegam a 66% nos que não envolvem Stem.
A pós-doutoranda Luciana deixa um recado para as meninas que queiram seguir nas carreiras científicas: “As meninas que entram precisam ser bastante fortes e ir ganhando respeito com o tempo. Existem outras mulheres que vieram antes e pavimentaram o caminho e elas podem percorrê-lo. Nós temos habilidade e capacidade para isso”.
Edição: Kleber Sampaio/Ag. Brasil