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sábado, novembro 23, 2024

“Pessoas estão adoecendo e sofrendo. Qual seria o valor financeiro para isso?”, desabafa morador do bairro Bela Vista sobre insegurança de viver próximo ao Sistema Pontal

Em roda de conversa promovida pela Assessoria Técnica Independente, em Itabira, moradores tiraram dúvidas sobre o processo de reparação e iniciaram um abaixo-assinado

Na noite desta quarta-feira (22), dezenas de moradores de diferentes bairros itabiranos compareceram à sede da Assessoria Técnica Independente da Fundação Israel Pinheiro (FIP/ATI), em Itabira, para participar de uma roda de conversa sobre o processo de reparação das famílias dos bairros Bela Vista, Nova Vista, Jardim das Oliveiras e Praia, diretamente atingidos pelo processo de descaracterização do Sistema Pontal.

Durante o evento, os técnicos da FIP/ATI explicaram e esclareceram dúvidas sobre os instrumentos legais que integram a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB); o que trata o Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM); onde os bairros atingidos se encaixam na mancha de inundação; o que são as zonas de autossalvamento (ZAS); os perigos que as barragens do Sistema Pontal ainda oferecem; e quais são os direitos das pessoas atingidas.

Sob a avaliação de Lucas Mageste, coordenador técnico de campo da FIP/ATI, o aumento da presença da comunidade nos eventos da ATI reflete o empenho por parte de todos da equipe. “Mostra também que a população está acreditando no trabalho que está sendo desenvolvido. A participação deles nesses espaços é fundamental para o fortalecimento de todo o processo. Serve, ainda, como um local de acolhimento para as pessoas atingidas, onde são informados, instruídos, tem suas dúvidas sanadas e seus problemas ouvidos”.

Abaixo-assinado

A roda de conversa também resultou em uma conquista para as pessoas atingidas. Indignados com a forma como a Vale vem conduzindo o processo de descaracterização, bem como as obras em curso no território atingido, os moradores conseguiram junto à FIP/ATI a criação de um abaixo-assinado. Entre outras coisas, o documento pede por acesso às informações que esclareçam a redução das remoções previstas, apesar do risco potencial de rompimento da barragem ainda ser o mesmo.

Ele também discorre sobre todo o impacto causado à vida das pessoas, como tráfego intenso de máquinas pesadas; poeira; rachaduras nas casas; desvalorização dos imóveis; problemas com esgoto; entre outros. “O abaixo-assinado serve como uma forma das pessoas atingidas mostrarem a insatisfação no modo como o processo está sendo conduzido. Também serve como um meio de unir a comunidade em torno de um objetivo em comum”, frisou Lucas Mageste.

Uma opinião compartilhada por Lívia Maris, coordenadora jurídica da FIP/ATI. “Esse foi um pedido da comunidade que vê no abaixo-assinado um instrumento para expressar a inconformidade em relação à condução do processo de descaracterização do Sistema Pontal pela empresa Vale. Sem informações claras e precisas, as pessoas seguem com suas vidas suspensas, adiando planos, vivendo sob forte angústia e ansiedade no tocante às remoções e a classificação de risco da barragem. Temos, hoje, uma situação de inobservância da lei por parte da empresa, e o sentimento das pessoas atingidas é de que suas vozes não estão sendo ouvidas”,

A advogada ainda destaca que a Assessoria Técnica independente está elaborando um documento técnico sobre a situação alarmante de diminuição do número de remoções previsto, e as Instituições de Justiça e Poder Público serão oficiados para que providencias sejam tomadas.

O sentimento dos moradores

Durante a roda de conversa, vários moradores pediram a palavra tanto para tirar dúvidas, quanto para incentivarem a união entre eles. O eletricista Kleyton da Silva, morador do Nova Vista, foi uma das pessoas que fez questão de se pronunciar. Ele falou das inseguranças que vem vivendo nos últimos anos.

“Nossa luta é grande, mas com a união vais nos levar ao objetivo maior, que é a reparação e a segurança de todos os moradores. Eu temo pela minha vida e da minha família, e é isso que me motiva a participar dos encontros e reuniões com a ATI. Todos os dias, eu me levanto para trabalhar e fico preocupado se pode acontecer alguma coisa. Eu me deito na minha cama e me preocupo se a barragem pode vir a romper, ou algo assim. Esse abaixo-assinado é algo que a gente já queria muito para fazer as autoridades olharem para a gente com um pouco mais de carinho”, finalizou.

Giéser Rosa Coelho, morador do bairro Bela Vista e liderança comunitária ativa no processo de reparação, comentou que a construção de orientações fornecidas para a população, por meio da FIP/ATI, tem sido feita em base sólida.

“Esse tipo de roda de conversa, com foco na formação, é necessário porque vai atraindo mais pessoas, trazendo mais interesse. O abaixo-assinado tem toda a informação do que está acontecendo e nossa luta pela reparação integral dos atingidos. Isso nos fortalece no entendimento do que são os danos causados pela Vale, que não estão restritos apenas às questões estruturais das casas e desapropriações, mas também os danos causados pela não-informação. Tudo isso gera transtornos que, muitas vezes, não serão mensurados em valores financeiros. As pessoas estão adoecendo e sofrendo. E qual seria o valor financeiro para isso?”, questiona.

 

Tatiana Linhares

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