Espaços são geridos com a participação da população, que recebe dicas por meio de ações de educação ambiental; comunidade acadêmica também é protagonista na proteção das áreas
As unidades de conservação (UCs) em Minas Gerais, geridas pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), são verdadeiros oásis para a conservação da natureza. Entre a vasta diversidade de fauna e flora encontradas nos espaços, estão espécies raras, algumas delas encontradas somente em áreas de proteção específicas no estado.
Graças a ações do Governo de Minas em prol da preservação ambiental, animais e plantas crescem em parques estaduais, estações ecológicas, monumentos naturais, entre outras áreas de proteção.
Entre as ações colocadas em prática, podem ser destacadas, por exemplo, a participação da comunidade na rotina dos parques. Neste caso, os espaços são abertos à população para que eles recebam dicas sobre a importância da preservação das áreas por meio da educação ambiental.
Ensino que é repassado, também, para as crianças de diversas escolas dos municípios nos quais a unidade está inserida.
“As Unidades de Conservação do nosso estado cumprem um importantíssimo papel para a preservação da fauna e da flora, para proteção de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção”, afirma o diretor-geral do IEF, Breno Lasmar. |
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“Isso faz com que cada vez mais elas se tornem únicas e importantes para que a gente tenha a garantia da conservação da biodiversidade em Minas”, complementa Lasmar.
Outra ação do governo que visa conservar as áreas é a adoção de políticas estaduais de prevenção e combate a incêndios florestais, que envolve, entre outras medidas, o treinamento de brigadistas, em parceria com o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), para a pronta resposta de combate, caso haja alguma ocorrência de fogo dentro das unidades de conservação.
Foi exatamente por conta de um combate ágil que uma espécie rara da flora, a canela-de-ema, resistiu a um incêndio no Parque Estadual (PE) da Serra do Rola-Moça, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
As chamas, que atingiram uma parte da vegetação, passaram pela espécie sem danificá-la. A unidade também conta com o cacto Arthrocereus glaziovii (Cactaceae), espécie rara por se desenvolver em locais pouco convencionais, como em rochas com minério de ferro.
“Ela busca nutrientes específicos para a sua sobrevivência e esses nutrientes ocorrem aqui no parque”, afirma o analista ambiental do IEF, Marcus Vinícius de Freitas, que foi gerente do PE da Serra do Rola-Moça por quase dez anos.
O parque também abriga outras espécies raras de flora como bromélias, orquídeas e arnicas, que são medicinais e podem ser utilizadas para combater dores musculares.
Já sobre a fauna, o parque possui registros de lobo guará e onça parda, que estão ameaçadas de extinção, além de aves como o beija-flor de gravata verde, maxalalagá e o campainha-azul.
Cadeia do Espinhaço
A Serra do Rola-Moça faz parte da cadeia de montanhas da Serra do Espinhaço, que é reconhecida como Reserva da Biosfera pela Unesco desde 2005. São relevos que se alinham por cerca de mil quilômetros, entre Minas Gerais e Bahia.
Também faz parte desse conjunto o Parque Estadual Serra de Ouro Branco, localizado no município homônimo, na Região Central de Minas.Por lá, foi registrada uma orquídea (Anathallis ourobranquensis) só presente no parque, além de espécies endêmicas da Serra do Espinhaço, como canelas-de-ema e arnicas.
Em relação à fauna, a unidade de conservação possui registro de Urubu-Rei, uma espécie bastante difícil de ser encontrada, além do lobo guará e do beija-flor-de-gravata-verde.
Interação entre população e unidades de conservação
A vizinha Ouro Preto abriga a Estação Ecológica do Tripuí. Criada há cerca de 40 anos, a unidade de conservação possui o Peripatus acacioi, um raro invertebrado conhecido por ser um anelídeo misturado com aracnídeo. A espécie é considerada um fóssil vivo de 350 milhões de anos e é por causa do Peripatus que a Estação Ecológica foi criada, para garantir a proteção da espécie.
Juarez Távola Basílio conduz a gestão da Estação Ecológica do Tripuí levando a comunidade para dentro do parque. Ele afirma que tem colhido bons frutos, uma vez que a população ajuda na preservação do espaço de 390 hectares. “A gente traz a comunidade para dentro da unidade de conservação e aí eles enxergam a importância da manutenção desse espaço”.
Assim como no Tripuí, as unidades de conservação de Minas apostam no diálogo com a comunidade para a preservação dos locais, que são fundamentais para a sobrevivência da biodiversidade, sobretudo espécies raras. Outro exemplo é o Parque Estadual do Itacolomi, também em Ouro Preto, que mantém portas abertas à população local.
“O parque trabalha muito em parceria com a comunidade, justamente para as pessoas poderem conhecer um pouco mais sobre a natureza, sobre como funciona, e estamos sempre passando informações sobre as dinâmicas do ambiente para que elas nos ajudem a conservar”, ressalta o monitor ambiental do Parque Estadual do Itacolomi, Hugo Soares.
Pesquisas científicas
Além da população, os parques também estão de portas abertas a pesquisadores, que produzem estudos que, muitas vezes, servem de base para a criação de unidades de conservação.
No Itacolomi, por exemplo, uma nova espécie de libélula (Heteragrion itacolomii) foi coletada, em 2018, por meio do trabalho de pesquisadores. Dois anos depois, a espécie foi registrada e batizada em homenagem à unidade onde foi encontrada.
Outra descoberta no Itacolomi foi de uma nova espécie de árvore, cuja pesquisa teve o artigo publicado em 23/10/2023, na Revista Botânica PhytoKeys, que destaca que a espécie Mollinedia fatimae.
Da linha Monimiaceae, que é uma família de arbustos, árvores ou cipós predominantemente encontrados em florestas tropicais, a Mollinedia fatimae é considerada endêmica, a única do gênero descrita para o quadrilátero ferrífero, já está avaliada como criticamente ameaçada de extinção.
“Essa árvore depende dessa vegetação para existir. Se a gente destruir esse ambiente, ela também deixa de existir. As unidades de conservação funcionam como refúgios para esses animais e para essas plantas porque oferecem condições e recursos específicos para sobrevivência”, alerta Hugo Soares.