O partido BJP, que tolera ataques a cristãos há dez anos, obteve mais uma vitória
A comunidade cristã está muito receosa na Índia. O partido que domina o governo há dez anos, Bharatiya Janata Party (BJP), conseguiu mais uma vitória. O primeiro-ministro Narendra Modi está pronto para começar seu terceiro mandato seguido. A gestão atual é a mesma que negligencia casos de perseguição extrema a cristãos, como os que ocorrem em Manipur há mais de um ano.
Depois de seis semanas de votação, a maior eleição da história terminou. No entanto, apesar da vitória do BJP, o partido não conseguiu a maioria dos lugares no parlamento. Isso cria a expectativa de que possa haver um pouco mais de diálogo sobre o tema da tolerância religiosa. Mesmo assim, a agenda de nacionalismo religioso hindu continua a ter um espaço relevante na sociedade indiana.
Desde que o BJP chegou ao poder, em 2014, a intolerância contra cristãos e muçulmanos cresceu significativamente. A parceira local da Portas Abertas Prya Sharma (pseudônimo) relata que os padrões de casos de perseguição mostram que não são atentados isolados e aleatórios. “Os ataques a cristãos têm se tornado sistemáticos e aumentam cada vez mais. Pastores são presos sob falsas acusações, igrejas têm sido fechadas e muitos são forçados à reconversão ao hinduísmo”, diz Prya.
A ideologia de grupos extremistas hindus é favorecida pelo BJP, de modo que agressões, ataques de multidões e falsas denúncias ficam impunes. Mesmo durante as eleições, a violência continuou imbatível, especialmente em regiões como Manipur, onde as urnas foram vandalizadas e cristãos, assassinados.
Atualmente, os cristãos representam 2,3% da população na Índia. Como minoria distribuída em várias partes do extenso país, é muito difícil para eles obterem representatividade política. “Os cristãos indianos oraram e jejuaram por essa eleição com fervor, com fé de que, independentemente do resultado, Deus os responderia e concederia força para enfrentar quaisquer desafios que viessem”, acrescenta Prya.
Prisões arbitrárias
Direitos fundamentais da cidadania na Índia foram violados e ignorados para prender cristãos. A acusação? Conversão ao cristianismo. Estados com leis anticonversão, como Karnataka e Chhattisgarh, estão testemunhando violações das leis e prisões arbitrárias, ou seja, sem julgamento adequado ou provas, tudo por causa da fé em Jesus Cristo. Você pode ler mais sobre isso na matéria Pastores são presos como traidores
Os cristãos são discriminados e agredidos em todas as áreas e, durante as eleições isso não foi diferente. Durante o processo, muitos casos de discriminação e perseguição a cristãos foram registrados, especialmente em Manipur, que há mais de um ano é palco de um conflito violento relacionado ao nacionalismo religioso. Na Índia, a identidade nacional está muito associada ao hinduísmo, por isso, aqueles que não seguem a religião majoritária são vistos como traidores do país. Veja mais como foi esse processo eleitoral no país nesta matéria.
Perseguição a cristãos na Índia
A Índia é considerada a maior democracia do mundo. Mas mesmo pregando sua relativa liberdade e força econômica, cristãos na nação se encontram cada vez mais sob ameaça. Essa hostilidade é muitas vezes guiada por uma crença contínua entre alguns extremistas de que indianos têm a obrigação de ser hindus – e qualquer fé além do hinduísmo não é bem-vinda na Índia. Essa mentalidade tem levado a ataques violentos pelo país e impunidade para as pessoas que causaram essa violência, principalmente em lugares onde as autoridades também são nacionalistas hindus.
Cada vez mais estados estão implementando leis anticonversão, criando um ambiente onde qualquer cristão que compartilhar sua fé pode ser acusado de um crime, intimidado, assediado ou até mesmo sofrer alguma violência. As campanhas em massa de “volta para casa” (ghar wapsi, em hindi) continuam, em que nacionalistas hindus colocam uma pressão imensa em cristãos convertidos do hinduísmo, dizendo-lhes para voltarem para a antiga fé.
Cristãos que se convertem do hinduísmo têm mais probabilidade de estar sob intensa pressão ou mesmo violência. Eles podem enfrentar pressão constante para renunciar à nova fé, enfrentam perda do emprego, discriminação no local de trabalho, são vítimas de violência e até mesmo mortos. Líderes de igrejas também estão em perigo em muitas partes da Índia – eles e suas famílias são visados por grupos extremistas para criar medo e caos na comunidade cristã.
O país ocupa a 11ª posição na Lista Mundial da Perseguição 2024, que classifica os 50 países onde os cristãos são mais perseguidos.
Regina Andrade