Trabalho é coordenado pelo biólogo marinho israelense Dan Tchernov
Antes de seres extraterrestres, a primeira experiência de comunicação humana com outra espécie poderá ser atingida no mar, com um projeto que se propõe a decifrar a linguagem das baleias cachalotes, começando por ouvi-las atentamente.
Em entrevista em Lisboa, onde participa da Cúpula Global da Exploração, o biólogo marinho israelense Dan Tchernov afirmou que “o começo dessa aventura” será instalar uma rede de três boias nas Caraíbas, equipadas com “o dispositivo de audição mais moderno que se conhece”.
“O principal objetivo é comunicar ou, pelo menos, tentar decifrar a comunicação desses magníficos mamíferos, nos seus próprios termos”. Tchernov lembrou que em tentativas anteriores, “os seres humanos buscaram compreender ou até se comunicar bilateralmente com outras espécies, mas usando língua gestual ou de outro tipo”.
No projeto que coordena, que deverá ter resultados no período de cinco a sete anos, o método será “escutar primeiro os sons que fazem, tentar recolher informação suficiente para decifrar o código que utilizam e, eventualmente, tentar comunicar”.
Nas boias, que serão fundeadas ao largo do estado insular de Dominica, serão montados “dispositivos acústicos modificados que fornecerão a localização dos animais, para que se saiba quem emite sons e recolher quantidades enormes de dados”.
Se correr bem a coleta de dados, que precisa ainda de informação sobre o comportamento dessas baleias e o contexto em que ocorre a comunicação, a fase seguinte será utilizar inteligência artificial para os processar, com intervenção de vários campos científicos, como criptógrafos e linguistas.
Tchernov admite que, em última análise, poderá não ser possível “falar” com baleias, mas mesmo que o fim da experiência não seja aquele com que sonha a equipe internacional de cientistas envolvida, poderá se chegar a novas conclusões sobre o mundo acústico dos mamíferos subaquáticos.
“Conhecer as suas interações internas, o seu comportamento, o seu mundo, mudará a nossa visão e o modo como tratamos o oceano e o nosso planeta”, afirma.
Para Dan Tchernov, da Universidade de Haifa, por trás do projeto, no entanto, está a vontade real de “quebrar a barreira interespécies”.
“Vamos imaginar que conseguimos. Que profundo entendimento, que nova visão do mundo teremos se conseguirmos essa ligação”, acrescenta o cientista, que reconhece que mesmo que os humanos consigam entender e expressar-se de modo a comunicar com baleias cachalotes, a conversa terá que ultrapassar a barreira dos dois universos absolutamente diferentes das espécies em jogo.
“O mundo [dos cachalotes] é um mundo acústico. E é tão diferente [do dos humanos]. Se quisermos falar sobre paladares, eles só conhecem dois: salgado ou não. Não sei sobre o que conseguiremos comunicar, mas faremos um esforço”.
O projeto Ceti (Iniciativa de Tradução de Cetáceos, na sigla em inglês) poderá também servir como “ponto de partida” para a comunicação com outras espécies com quem os seres humanos possam se encontrar no âmbito da exploração espacial.
“Um teste, um treino antes de encontrarmos outras civilizações. Temos aqui uma civilização enorme, que só agora começamos a entender. Depois, poderemos usá-lo para examinar o que acontecerá no espaço profundo, não no nosso tempo de vida, mas daqui a centenas de anos. Estamos num processo de construção”, afirma.
Participam do projeto cientistas das universidades de Harvard, Berkeley, Massachussetts Institute of Technology, Imperial College de Londres e Universidade de Haifa.
A Cúpula Global da Exploração vai até sexta-feira na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, e no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, com sessões presenciais e virtuais que podem ser acompanhadas no site da reunião.
Ag. Brasil