Programa vai ao ar neste domingo, às 20h, na TV Brasil
Em um mundo que se fala cada vez mais de metaverso, nanorobôs e inteligência artificial, surge uma nova geração que terá um contato mais natural com esse tipo de tecnologia: a geração Alpha. Crianças nascidas entre 2010 e 2025 provavelmente terão um raciocínio mais voltado para a lógica digital, mas perdem o que a era analógica oferecia. Mas será que apenas a tecnologia vai importar daqui para frente para classificar uma geração?
A estudiosa de gerações Wivian Weller, doutora em Sociologia e professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), acredita que não. Para ela, há um empobrecimento da ideia de só ver as novas gerações através da ótica tecnológica, apesar dela fazer parte do mundo dessas crianças. “Uma geração não se constitui apenas pelo uso de tecnologias, mas a gente precisa perguntar também que tipo de uso essa geração faz com elas”, avalia.
E ele não parou por aí. Durante a pandemia, começou a estudar programação na escola CodeBuddy e criou o jogo Ciclovias Verdes, em que um ciclista pega lixo e poluição em troca de pontos. A ideia agora é ter um patrocínio para que as pontuações no mundo virtual sejam revertidas em atitudes no mundo real de reflorestamento ou de despoluição.
Quem são os Alpha
Os jogos foram um ponto de conflito entre a médica Cristiane Guimarães e o filho, Bernardo, de 11 anos, em Brasília. Durante a pandemia, sem poder encontrar os amigos, o videogame foi um dos passatempos que ele tinha. Mas virou motivo de preocupação dos pais. Um dia, numa atitude extrema, Cristiane desconectou todo o equipamento e o trancou em um armário, além de confiscar o celular do filho. Só depois, ao ver a tristeza de Bernardo por não poder encontrar os amigos virtualmente, que os dois chegaram a um acordo: o limite de 2 horas por dia para jogar.
A atitude de Cristiane está de acordo com a cartilha da Sociedade Brasileira de Pediatria, lançada em 2020. O manual recomenda evitar o uso de telas por crianças abaixo dos 2 anos. E entre 2 e 18 anos, os pais precisam limitar o tempo de uso de telas e jogos de videogame. Isso para evitar que os exageros ocorram, já que existem doenças relacionadas a esse tipo de vício: a dependência digital foi, em 2019, incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID) pela a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Exclusão digital
Na escola pública Comunidade de Aprendizagem do Paranoá (CAP), em Brasília, grande parte das crianças não têm acesso integral às tecnologias. Para amenizar esse distanciamento da realidade digital, a escola conseguiu arrecadar 16 tablets durante a pandemia. “Precisamos muito que isso chegue o quanto antes e que isso potencialize o processo de comunicação social e de relação com o mundo e construção de conhecimento para todas as crianças, de todas as camadas”, avalia o professor Matheus Fernandes de Oliveira.
Mas a escola, por adotar um modelo que rompe com o padrão de educação tradicional, oferece aos alunos o desenvolvimento de outros tipos de habilidades, também essenciais para a independência e convívio social das crianças. A diretora da escola, Renata Resende, lembra que o modelo usado na educação tradicional remete ao século 19. “Há uma necessidade de readaptação do formato da escola a esses novos tempos, que é algo não apenas da geração Alpha, mas que a gente já sente há muito tempo”, avalia.
Para José Moran, especialista em educação e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), é essencial que se reveja esse modelo educacional. E é possível ter uma realidade híbrida, com jogos manuais e jogos digitais, por exemplo, o que for conveniente a cada momento. “O digital envolvido e um pouco de afeto é um caminho indispensável para essa geração”, afirma.
O assunto é o tema do próximo episódio do Caminhos da Reportagem, “Geração Alpha: crianças além de tecnologia”, que vai ao ar neste domingo (13), às 20h, na TV Brasil.