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quinta-feira, novembro 7, 2024

A volta de Trump à Casa Branca e o futuro da política internacional

 

Por Fernanda Brandão, coordenadora de Relações Internacionais da Faculdade Mackenzie Rio

Após uma corrida eleitoral acirrada, com as pesquisas de opinião indicando um empate técnico entre o candidato republicano e ex-presidente Donald Trump, e a candidata republicana e atual vice-presidente Kamala Harris, a vitória de Donald Trump está praticamente confirmada. Há expectativa de que Kamala Harris se pronuncie ainda nesta quarta-feira e ligue para Donald Trump, reconhecendo a vitória do adversário político. A apuração dos votos até o momento aponta para uma maioria republicana no senado e uma possível maioria republicana na câmara, o que criaria um cenário de menos atritos políticos na condução da política de um governo Trump.

O mundo todo acompanha com atenção os resultados das eleições americanas, uma vez que o lugar de proeminência que os EUA ocupam no cenário internacional fazem com que as decisões políticas no país tenham impactos e desdobramentos em diferentes partes do globo. A eleição de Donald Trump traz consigo um projeto específico de país e de engajamento com a política internacional.

O slogan de Trump, “Make America Great Again”, ou “fazer a América grande de novo”, aponta para a crença de que o engajamento global dos Estados Unidos seja um dos motivos para seu declínio. Trump acredita que a redução dos compromissos internacionais dos Estados Unidos, incluindo em questões de segurança, e a adoção de  políticas comerciais protecionistas, revertendo a tendência de liberalização internacional do comércio predominante desde o fim da Segunda Guerra Mundial, serão  fundamentais para reafirmar a preponderância americana no âmbito internacional.

A hegemonia ou dominância dos EUA teve início no pós Segunda-Guerra Mundial inaugurando uma era de promoção da liberalização econômica internacional acompanhada da formação de organizações e instituições internacionais multilaterais voltada para a discussão dos temas da política internacional com o objetivo de  promover a cooperação entre os países, e um arranjo de segurança sustentado pela aliança militar com a Europa e com o comando dos comuns, ou a presença militar americana em diferentes partes do globo através do comando dos espaços aéreo, espacial e naval. Desde então, os volumes de transações de bens e capitais aumentaram progressivamente e ao longo dessa jornada os EUA se consolidaram como a maior economia do mundo e a maior potência em poder militar. O fim da União Soviética, no início dos anos 1990, reforçou e ampliou o espaço de influência americano sobre a política internacional.

O projeto de Trump para os Estados Unidos coloca em xeque os principais elementos que sustentaram a legitimidade da liderança americana no cenário internacional até o momento. Trump é grande crítico das organizações internacionais e em seu termo anterior como presidente atuou de forma a enfraquecer o apoio americano a elas. Já em termos de comércio Trump promete a aplicação de tarifas de importação contra a China e contra outros países que utilizam outras moedas que não o dólar em suas transações internacionais (um recado principalmente para os países BRICS) o que teria impactos sobre o custo de vida para os cidadãos americanos e sobre os fluxos de comércio internacionais podendo afetar negativamente os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos e também o Brasil. Em termos de segurança, Trump desde seu primeiro termo como presidente, faz duras críticas ao engajamento americano com a OTAN e afirma que reduzirá o envio de contribuição e ajuda ao esforço de guerra na Ucrânia, sinalizando para seus aliados que os Estados Unidos não são mais um parceiro confiável em questões de segurança como foram até o momento. Assim, o
futuro do conflito na Ucrânia e da própria OTAN, a principal aliança militar no mundo hoje, coloca-se sob questionamento.

Trump acredita que ao olhar para dentro e reduzir seus compromissos internacionais será capaz de reforçar a preponderância americana no cenário internacional. O que o provável presidente eleito ignora é que esses compromissos internacionais sustentaram a legitimidade de uma ordem internacional centrada nos Estados Unidos e coibiu a ação expansionista de outras potências. Além disso, a prosperidade econômica americana foi resultado da expansão do mercado internacional através da progressiva liberalização do comércio e dos fluxos de capitais. A percepção do declínio relativo dos EUA frente a ascensão da China acompanhada da sistemática redução do engajamento dos EUA com a manutenção da ordem internacional pode criar um cenário favorável para a ação de potências insatisfeitas com a ordem internacional ao invés de coibir a atuação delas. O que a eleição de Trump aponta para a política internacional é de um cenário de crescente tensão, competição e incerteza.

Isabel Rizzo

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