O estado do Acre enfrenta uma enchente histórica. Em meio ao caos instalado, um médico atendeu um bebê, que está com pneumonia, dentro da água, em Tarauacá, cidade que fica a 380 km de Rio Branco. A foto viralizou na web e o médico Rodrigo Damasceno já é tratado como um herói.
O socorre ao bebê não é uma ação, pelo contrário. Rodrigo tem ido às ruas para atender a população da cidade, que ficou debaixo d’água. O rio ultrapassou a cota de transbordamento, alagando mais de 80% do município. O médico já foi prefeito de Tarauacá, diz que as enchentes são comuns na região, mas que nunca viu nada parecido com a situação atual.
Com a água acima da cintura, Rodrigo ouve os batimentos da criança com um estetoscópio, enquanto a mãe segura o filho dentro de uma canoa. A família mora em um dos primeiros bairros atingidos pela enchente, o Praia.
“É a maior alagação que vivenciei no município e que está afetando mais as pessoas. Essa criança tem dois anos e está com pneumonia. Conseguimos remédios com uma farmácia local e saímos também distribuindo a medicação, porque não adianta dar só a receita se a família não tem condições de comprar”, contou.
Médico visita famílias que não têm para aonde ir
Dr. Rodrigo lembra que a família da criança não saiu de casa. Mesmo com a água dentro da residência, a mãe tem medo de deixar o local e roubarem o local. Segundo ele, o momento é de ir nas casas oferecer ajuda, porque a maioria das pessoas está isolada nos bairros, impossibilitadas de sair para buscar atendimento. Para pior o cenário, muitas unidades de saúde estão inundadas.
“No lugar de estarem procurando os médicos, atendimentos, nós que temos que procurar, porque estão isoladas. Mais da metade dos postos de saúde está debaixo d’água , então, até para procurar os atendimentos é difícil, é algo que compromete o funcionamento básico de uma cidade”, diz.
Fome e surto de dengue
Indo de casa em casa, o médico descobriu que muitas famílias não tinham o que comer. O cenário é mesmo preocupante: além da enchente e da falta alimentos para as famílias afetadas, a cidade vive um surto de dengue.
“O povo está passando uma necessidade grande, acabou o auxílio emergencial, hoje fui em uma casa entregar sopa em que o pessoal não tinha tomado café e nem almoçado. Só iam comer a sopa. O que estamos tentando fazer é amenizar o sofrimento, levando uma sopa, atendimento, pão, para ver se consegue ajudar uma parte da população”, acrescentou.
CONTINUE LENDO ABAIXO
Sentimento de impotência
Diante de tudo isso, o sentimento é de impotência. Médico há 14 anos, Rodrigo oferece o que pode – um atendimento, um remédio ou um prato de sopa – , mas sabe que a população precisa de muito mais.
“Estamos em uma encruzilhada, o pouco que fazemos não vai resolver todos os problemas, mas fazemos nossa parte. Teve uma pessoa hoje, quando fomos distribuir a sopa, que falou: ‘doutor, a gente quer que a água baixe’. Falei que não podia ajudar dessa forma, mas com um atendimento e sopa podia”, lamenta.