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sexta-feira, novembro 22, 2024

Dia da Inconfidência tem homenagem simbólica em Ouro Preto

Por causa da pandemia, cerimônia na Praça Tiradentes não teve presença de público pelo segundo ano seguido

Pelo segundo ano consecutivo, o Dia da Inconfidência foi celebrado sem a presença de público, devido às restrições impostas pela pandemia da covid-19. Em um ato simbólico realizado nesta quarta-feira (21/4), na Praça Tiradentes, em Ouro Preto, na região Central, a capital mineira foi transferida por um dia, simbolicamente, para a cidade histórica, em homenagem aos 233 anos da Inconfidência Mineira.

Ane Souz – Prefeitura Ouro Preto

Mantendo as regras de distanciamento social e os cuidados sanitários necessários, a cerimônia foi preenchida pelo ritual costumeiro, mas, desta vez, solitário dos oficiais: um Dragão da Inconfidência ficou encarregado de conduzir a coroa de flores até o monumento de Tiradentes e um corneteiro da Banda Sinfônica do Corpo de Bombeiros executou o tradicional toque de silêncio. Posteriormente, a Pira da Liberdade foi acesa na Praça Tiradentes, como marco dos ideais de civilidade e liberdade de Minas Gerais.

Ane Souz – Prefeitura Ouro Preto

Para além dos atos oficiais, a cerimônia ainda contou com a leitura do poema “Romance XXXV ou do Suspiroso Alferes”, do livro Romanceiro da Inconfidência (1953), da escritora Cecília Meireles, que homenageia a luta dos inconfidentes mineiros.

Medalha

Ane Souz – Prefeitura Ouro Preto

A entrega da Medalha da Inconfidência foi suspensa, a exemplo do ano passado, como medida de prevenção epidemiológica e sanitária para conter a propagação do coronavírus. Criada em 1952 por Juscelino Kubitschek para saldar personalidades e instituições que contribuem para o desenvolvimento e prestígio do estado, a Medalha da Inconfidência é a mais alta comenda concedida pelo Governo de Minas.

Iluminação

Ane Souz – Prefeitura Ouro Preto

Antes do ato simbólico, a primeira homenagem à Inconfidência Mineira foi a inauguração da iluminação em verde do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, nessa terça-feira (20/4). A cor representa o reconhecimento do trabalho dos profissionais de Saúde, que há mais de um ano se dedicam ao combate da covid-19 em todo o país. A iluminação especial será mantida até a noite desta quarta-feira (21/4).

História

Ane Souz – Prefeitura Ouro Preto

O feriado de 21 de abril, ou Dia da Independência, relembra os valores históricos que marcaram o movimento de revolta dos inconfidentes contra a Coroa portuguesa na segunda metade do século XVIII, no fim do ciclo do ouro. Por reverenciar o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), condenado à forca após liderar a luta por justiça na então Capitania de Minas Gerais, a data também é conhecida como Dia de Tiradentes.

Tiradentes nasceu na Fazenda do Pombal, próximo ao arraial de Santa Rita do Rio Abaixo, à época território disputado entre as vilas de São João del-Rei e São José del-Rei, na Capitania de Minas Gerais.[5]

Joaquim José da Silva Xavier era o quarto de sete filhos do português Domingos da Silva Santos, proprietário rural, e da brasileira nascida em colônia portuguesa, Antônia da Encarnação Xavier.[6]

Tiradentes era oriundo de uma família que não era pobre, como se constatou pelo inventário da sua mãe, que foi aberto em 1756. Havia 35 escravos na grande fazenda do Pombal, onde trabalhavam também em mineração. Um alpendre dava acesso externamente a um oratório e havia senzalas e cozinhas coletivas. Foi ainda relacionada no inventário uma grande e valiosa quantidade de equipamentos para mineração.[4]

Em 1755, após a morte de sua mãe, segue junto a seu pai e irmãos para a sede da Vila de São José; dois anos depois, já com onze anos, morre seu pai. Com a morte prematura dos pais, logo sua família perde as propriedades por dívidas. Não fez estudos regulares e ficou sob a tutela de seu tio e padrinho Sebastião Ferreira Leitão, que era cirurgião dentista.[4] Trabalhou como mascate e minerador, tornou-se sócio de uma botica de assistência à pobreza na ponte do Rosário, em Vila Rica, e se dedicou também às práticas farmacêuticas e ao exercício da profissão de dentista, o que lhe valeu o apelido (alcunha) de Tiradentes.[4] Segundo frei Raimundo de Penaforte, Tiradentes “ornava a boca de novos dentes, feitos por ele mesmo, que pareciam naturais”.[7] Trabalhava ocasionalmente também como médico, em vista dos conhecimentos sobre plantas medicinais adquiridos com seu primo, frei José Mariano da Conceição Veloso, consagrado botânico à época.[6]

Vida adulta

Com os conhecimentos que adquirira no trabalho de mineração, tornou-se técnico em reconhecimento de terrenos e na exploração dos seus recursos. Começou a trabalhar para o governo no reconhecimento e levantamento do sertão sudestino. Em 1780, alistou-se na tropa da Capitania de Minas Gerais; em 1781 foi nomeado comandante do destacamento dos Dragões na patrulha do “Caminho Novo“, estrada que servia como rota de escoamento da produção mineradora da capitania mineira ao porto Rio de Janeiro na Serra da Mantiqueira. Sua atuação levou à prisão de um famoso grupo de salteadores liderados pelo temido Montanha.[8] Foi a partir desse período que Tiradentes começou a se aproximar de grupos que criticavam o domínio português sobre as capitanias por onde circulava. Insatisfeito por não conseguir promoção na carreira militar, tendo alcançado apenas o posto de alferes, patente inicial do oficialato à época, e por ter perdido a função de marechal da patrulha do Caminho Novo, pediu licença da cavalaria em 1787.

Na crônica Memórias da Rua do Ouvidor, capítulo 7, o escritor e médico fluminense Joaquim Manuel de Macedo relata que, neste mesmo ano de 1787, Tiradentes conhece uma certa “Perpétua Mineira”, dona de uma casa de pasto na rua do Ouvidor, na cidade do Rio de Janeiro e apaixonam-se, mantendo um romance por pouco mais de dois anos. Em 1790, o Conde de Resende é nomeado Vice-Rei do Brasil, com a missão de acabar com a conspiração mineira. Perpétua também passou a ser espionada, sua casa de pasto foi por vezes invadida e já não se encontrava mais com Tiradentes, que já havia sido preso. Segundo a crônica, Perpétua foi vista pela última vez em 21 de abril de 1792 nas proximidades da forca onde havia sido executado seu amante.[9]

Após a licença da cavalaria, Tiradentes morou por volta de um ano na cidade carioca, período em que idealizou projetos de vulto, como a canalização dos rios Andaraí e Maracanã para a melhoria do abastecimento de água no Rio de Janeiro; porém, não obteve aprovação para a execução das obras.[carece de fontes] Esse desprezo fez com que aumentasse sua indignação perante o domínio português. De volta às Minas Gerais, começou a pregar em Vila Rica e arredores, a favor da independência daquela capitania. Fez parte de um movimento aliado a integrantes do clero e da elite mineira, como Cláudio Manuel da Costa, antigo secretário de governo, Tomás Antônio Gonzaga, ex-ouvidor da comarca, e Inácio José de Alvarenga Peixoto, minerador e grande proprietário de terras na Comarca do Rio das Mortes. O movimento ganhou reforço ideológico com a independência das colônias estadunidenses e a formação dos Estados Unidos. Ressalta-se que, à época, oito de cada dez alunos brasileiros em Coimbra eram oriundos das Minas Gerais, o que permitiu à elite regional acesso aos ideais liberais que circulavam na Europa.[carece de fontes]

Participação na Inconfidência Mineira

Além das influências externas, fatores mundiais e religiosos contribuíram também para a articulação da conspiração na Capitania de Minas Gerais. Com a constante queda na receita institucional, devido ao declínio da atividade mineradora, a Coroa resolveu, em 1789, a aplicar o mecanismo da Derrama, para garantir que as receitas oriundas do Quinto, imposto português que reservava um quinto (1/5) de todo minério extraído no Reino de Portugal e seus domínios.[10] A partir da nomeação de Luís da Cunha Meneses como governador da capitania, em 1783, ocorreu a marginalização de parte da elite local em detrimento de seu grupo de amigos. O sentimento de revolta atingiu o máximo com a decretação da derrama, uma medida administrativa que permitia a cobrança forçada de impostos, mesmo que preciso fosse prender o cobrado, a ser executada pelo novo governador da Capitania, Luís Antônio Furtado de Mendonça, 6.º Visconde de Barbacena (futuro Conde de Barbacena), o que afetou especialmente as elites mineiras.[10] Isso se fez necessário para se saldar a dívida mineira acumulada, desde 1762, do quinto, que à altura somava 768 arrobas de ouro em impostos atrasados.[10]

Ameaçada de uma derrama violenta, os inconfidentes, entre eles, o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, os poetas Cláudio Manuel da CostaTomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto e Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, marcaram um levante para a ocasião da derrama de 1789.[11] Porém, antes que a conspiração se transformasse em revolução, em 15 de março de 1789 foi delatada aos portugueses por Joaquim Silvério dos ReiscoronelBasílio de Brito Malheiro do Lagotenente-coronel, e Inácio Correia de Pamplona, luso-açoriano, em troca do perdão de suas dívidas com a Real Fazenda.[11][12] Anos depois, por ordem do novo oficial de milícia Ernesto Gonçalves, planejou o assassinato de Joaquim Silvério dos Reis. Entrementes, em 14 de março, o Visconde de Barbacena já havia suspendido a derrama, o que esvaziara por completo o movimento.[11][12] Ao tomar conhecimento da conspiração, Barbacena enviou Silvério dos Reis ao Rio para apresentar-se ao vice-rei, que imediatamente abriu uma investigação (devassa), no dia 7 de maio. Avisado, o alferes Tiradentes, que estava em viagem licenciada ao Rio de Janeiro escondeu-se no sótão da casa de Domingo Fernandes da Cruz, amigo da tia de Alvarenga Peixoto, dona Inácia. Desejando saber “em que termos vão as coisas”, pediu ao padre Inácio de Lima, sobrinho de dona Inácia, para que procurasse por Silvério dos Reis: “amigo”. No dia 9 de maio, Silvério dos Reis contou ao vice-rei que sabia quem conhecia o paradeiro de Tiradentes. No dia seguinte, o Padre Inácio foi apresentado ao Palácio e ameaçado para entregar a localidade do alferes.[13]

Tiradentes teve a casa cercada ainda no dia 10 por soldados originais da cidade de Estremoz. Escondeu-se atrás das cortinas da cama, segurando um bacamarte carregado, cedido por Matias Sanches Brandão, e mantendo duas pistolas por perto, cedidas por Francisco Xavier Machado.[14][15] Quando os soldados invadiram o quarto, Tiradentes entregou-se. Talvez ainda houvesse chance para a revolução, mesmo sem ele.[16]

Agência Minas

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